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Prefácio de sonhos e memórias...
O menino Manuel, levado pelo seu pai João ao Seminário Arquidiocesano da Paraíba, admirou, em várias oportunidades naquele internato, os azulejos da Igreja São Francisco que lhe retrataram cenas de José como decifrador dos sonhos dos oficiais do Egito e do faraó. Certamente, desde cedo, impressionou-se com a riqueza do que fosse o sonho enquanto preanunciação do que iria acontecer, revendo José interpretar nas sete vacas gordas, a abundância e, nas sete de vacas magras, a escassez... Essa intensa imagem o acompanhou até os dias da sua vida madura para vir a escrever o Sonho Medieval como introdução desta obra ou como relato do acontecido. Assim, o autor recorre a essa imagem, não como objeto de um prenúncio, mas como um tesouro da inconsciência e consciência de uma realidade vivida, recebendo, “num velho cenóbio”, memórias da sua infância até a vocacionada vida de levita.
O livro de Manuel Batista é escrito de afirmações concisas e fortes a partir da primeira sentença: “Eu nasci semimorto”. Tido como morto, quase sozinho reagiu fortemente às portas da morte; choramingou, com a pouca força da respiração, como se fosse um grito ressuscitador, ouvido pela parteira Mãe Chiquinha que já dava as costas ao morituro para se dedicar exclusivamente à sua mãe Dona Cota. Essa pujança de nascença deu a Batista extraordinário vigor e entusiasmo empreendedor que conserva até os dias de hoje.
João Pessoa vivenciou, há muito tempo, desde o Brasil Império, curiosa predestinação ao ensino superior. Em 1823, na ocasião da Assembleia-Geral Constituinte, o parlamentar paraibano Joaquim Manoel Carneiro da Cunha alvitra nossa cidade com características e identidade para ser universidade. Dizia que a Parahyba possuía, mais do que outras províncias, recursos humanos, acomodações, “clima ameno e quase nenhuma distração” para disturbar os estudos mais profundos do terceiro grau sobre especulações jurídicas e filosóficas. O Governador Castro Pinto, destacado governante na área da Educação, criou a Escola de Comércio e a Universidade Popular da Paraíba. A partir de 1952, surgem, em João Pessoa, sistematicamente, cursos isolados, reunidos por José Américo de Almeida na Universidade Estadual da Paraíba, entregue ao educador Durmeval Trigueiro Mendes. Em 1960, com decisivo apoio do Ministro Abelardo Jurema, Juscelino Kubitschek federalizou a UEP que, hoje, é a Universidade Federal da Paraíba, espalhada por Lynaldo Cavalcanti em vários campi, e dividida em UFPB, UFCG e, quiçá, muito proximamente, Universidade Federal do Sertão. Manuel Batista de Medeiros faz parte dessa história com seu pioneirismo no ensino superior da rede privada, o que era de se esperar, pois, antes dessa iniciativa, tinha começado a preparação à Universidade dos concluintes do ensino médio em “cursinho vestibular”. Em 1972, inicia o ensino superior, em instituição particular (Universidade Autônoma) que, seguido pelo IESP, FESP e outras IES, faz de João Pessoa uma imensa universidade. Posteriormente, o governador Tarcísio Burity reabre as portas da UEPB. O livro “Escritura Apócrifa da Vida do Levita” relata momentos, decisões e caminhos nunca antes conhecidos, obras, feitos e fatos inéditos de Batista, dos quais se ressalta a ideia de criar a Universidade Autônoma de João Pessoa, hoje o consagrado UNIPÊ. Enfim, o confrade da APL, Manuel Batista, enriquece esses escritos com descrição minuciosa das suas fases de vida, ilustra este livro com fatos pitorescos da cultura interiorana, o que nos propicia uma leitura mais do que agradável.
Duas virtudes, seguindo a valorização de Georg Simmel, destacam-se do bico da sua pena: fidelidade às ideias, às pessoas e aos fatos e gratidão àqueles que o ajudaram na realização dessas ideias e a carregar seu alforje, desde sua descida das serras de Serraria até o prosseguimento nos caminhos litorâneos da vida. Damião Ramos Cavalcanti Academia Paraibana de Letras
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Damião Ramos Cavalcanti
Enviado por Damião Ramos Cavalcanti em 28/06/2012
Alterado em 06/07/2012
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