Damião Ramos Cavalcanti

Enquanto poeta morrer, a poesia haverá de viver

Textos


 Flechas que se tornam arcos
 
          
       
   Em todos os países, existem pais, mas nem em todos eles, há Dia dos Pais. Talvez, em países sem esse dia, os pais avós sejam, no dia a dia, mais lembrados pelos filhos pais... Aliás, há lugar, cuja cultura, confundida pela ignorância dos períodos férteis e não férteis da mulher, desconhece a participação do homem na procriação: a mulher sozinha seria responsável pela sua gravidez, gestação e parto, gerando assim, por essa importância na sobrevivência da espécie, o poder matriarcal na sua sociedade.  Ainda por lá, o verdadeiro pai, considerado apenas amigo da mãe, se substitui pelo tio materno, maior autoridade familiar depois da mãe. Mas, um dia, haveriam de compreender que só há filho se houver pai.  Por aqui, acontece maior confusão: há homem, dizendo “casar-se” com outro e, por isso, chamando-se de mãe no Dia das Mães. No nosso país, o Dia dos Pais não é lembrado em data fixa como o da Pátria, cai sempre no dia não útil, em que ele não trabalhe, sendo determinante o segundo domingo de agosto de qualquer ano.

          Afinal, quem não lembra o pai mesmo com traços somente da mãe ou quem não se lembra do pai, seja por acertos e erros na vida cometidos por ele, e até pelo filho ou pela filha?  Na realidade, pai é assunto menos falado do que mãe. Quem não recorda, desde a infância, o grito irado soltado na rua, sobre a querida mãe do outro, a quem se prefere ofender? Pai só é xingado pelos filhos dos outros por seus reais defeitos, diga-se de passagem, em maior quantidade do que os da mãe. Contudo, tragédias, romances, contos e teorias psicanalíticas explicam o ódio filial sempre mais na figura do pai, mesmo quando é muito amado... Mas, se inventaram o Dia das Mães, logo faltaria o Dia dos Pais. Festejemo-lo.

        Em o Profeta, de Khalil Gibran, uma mãe, “com um bebê ao colo, disse: Fala-nos de filhos. E ele disse: Vossos filhos não são vossos filhos (...), não vos pertencem. (...) Sois os arcos pelos quais vossos filhos são lançados quais setas vivas.” Pois, se os filhos, naturalmente crias das mães, não lhes pertencem, menos ao pai.  Ambos, para serem arco, devem atirar suas flechas ao destino da vida, longe de si. E filhas e filhos, quanto mais forem flechas e lançados às suas próprias vidas, mais carinhosamente comemorarão esse dia.   

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Damião Ramos Cavalcanti
Enviado por Damião Ramos Cavalcanti em 09/08/2012
Alterado em 11/08/2012


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